domingo, 21 de outubro de 2012

AS AVENTURAS DE PEDRO MANOELZINHO (OU JOÃO MALAZARTE?)

João de Manoelzinho, homem simples, semi-analfabeto, provido de toda brutalidade, esperteza, valentia, criatividade e até delicadeza que a universidade da vida pode dotar, marcou presença como um Pedro Malazarte da Cajazeiras dos anos sessenta e setenta. Enfrentando a lâmina tênue da vida como um verdadeiro sobrevivente da pobreza, da fome e da violência, fez de sua vida um verdadeiro desafio, uma provocação ao otimismo, um brinde à perseverança, ocupou-se sempre em “empreendimentos” marcantes, nunca sobrou tempo para lamentações.
Nas proximidades da praça Camilo de Holanda, onde seria construída a igreja de São João Bosco, aproveitava a saída dos fieis da missa campal que se celebrava nas tardes de Domingo, num circo mambembe, anunciou a sensacional “mulher que vira peixe”, casa lotada. A jovem artista, que nas horas de trabalho fazia ponto na palha , ao ver tamanho público, não teve coragem de apresentar-se e forçou João de pedir a Zefa dos Peitão um soutien e uma calcinha emprestados para fazer, ele mesmo, a apresentação.
A entrada da figura no picadeiro já provocou uma gargalhada geral, maior ainda quando o baixinho Zé Baleia, o assistente, entrou empurrando um carrinho com os objetos de cena. A platéia estava totalmente entregue à risada quando a “artista”, tirou do carrinho uma frigideira com um peixe dentro e balançou-a com movimentos em que o peixe virava de um lado para outro. A assistência foi à loucura. Homens, mulheres, meninos e até o padre, que saíra da missa direto para o circo, faziam do ambiente a maior balbúrdia, mas a “mulher” estava virando o peixe e foi o prometido. Restou da história a saída de todos, rindo ou reclamando, e a descrença no circo do J. Manoelzinho.
Não havia de ser nada, o circo foi a Jatobá, cidade a 30 quilômetros de Cajazeiras, lá a atração foi o homem que entrava em quatro garrafas. Casa cheia, depois que João, à hora da atração máxima, disse que só um louco acreditaria naquilo e , para cumprir o prometido, colocou um dedo em cada uma das quatro garrafas, a turba destruiu o circo.
Sem circo e sem dinheiro, João foi a Ipaumirim – CE, alugou o cinema local e anunciou o show da noite: o homem que desaparece. Casa cheia e público impaciente, passadas duas ou três horas sem que começasse o espetáculo, alguém da platéia foi à bilheteria informar-se sobre o início da função, soube-se então: o homem desaparecera.
De saco cheio do mundo dos espetáculos, fundou um clube que ficou famoso, pelo episódio de um pai, que perguntando se sua filha moça ali estaria.
-Moça? Aqui não tem, pode até entrar, mas não sai moça.
Voltou-se para o futebol, foi a Juazeiro do Norte - CE e acertou um jogo entre a seleção da cidade e o Botafogo de Cajazeiras, que estava na liderança do campeonato matutão na Paraíba. No acerto, comprometeu-se em levar a filha do prefeito de Cajazeiras para dar o pontapé inicial. Levou seu velho time, o Íbis, como se fora o Botafogo, e uma das meninas da palha para posar de filha do prefeito.
Aos dois minutos do primeiro tempo o “Botafogo” fez um gol, foi só isso. O jogo terminou com o placar de 9x1, para o time da casa. Não deu outra, saiu do estádio debaixo da maior chuva. Copos, garrafas, chupas de laranja, tudo que se podia jogar. Foi preciso proteção policial para a equipe sair do estádio. Ficou barato, João recebera o pagamento antecipado.
Quando Chico Rolim assumiu pela primeira vez a prefeitura da cidade, pressionado pela falta do produto, aumentou o preço da carne e provocou a maior grita na cidade. As difusoras fizeram o maior estardalhaço, a população não falava em outra coisa e a oposição, ainda não refeita da derrota recente, aproveitou a deixa para começar a campanha seguinte. A cidade fervia, tudo o que acontecesse era creditado (ou debitado?) ao aumento da carne.
O prefeito, para diminuir o estrago, negociou com os açougueiros, beneficiários da medida, a doação de toda a carne com osso à população carente. Foi uma festa, era pirão com cachaça por tudo que era lugar.
Junto com alegria da pinga veio a idéia de sair com escola de samba fora de época.
João, apesar de não beber nem fumar, assumiu seu papel de líder da escola. A cidade toda, mal saiu a escola, conheceu o “samba enredo” criado para saudar o aumento da carne. Até o prefeito postou-se num lugar onde não podia ser visto para também conhecer o samba.
O chefe da edilidade ainda hoje se lembra com desconforto do estribilho.
A carne quando assa tem um gosto diferente.
O rico fica alegre e o pobre fica contente.
Oi neguinho! O que é que pobre come?
Pobre só rói os ossos.


sábado, 7 de julho de 2012

Fibonacci, quem aposta?

Numa época boa e distante, quando nós, a maioria dos jovens mortais cajazeirenses, não sa- bíamos quem era um tal de Fibonacci!!!
Cidadão que eu, só vim a saber quem era 40 anos depois, em 2004, quando li o livro Código Da Vinci.
Um certo dia, lá em Campina Grande, Valiomar aparece na re- pública, com uma arrumação de um tal jogo de Fibonacci.
Aí, danou-se todo mundo a biritar e brincar a mazela do jogo! E, a ficar bêbado, pois quem er- rava, havia de tomar uma lapada de cana.
Matemática pura. Explico:
A série Fibonacci, é uma sequência de números, começando a partir do 1(um), onde o número seguinte é a soma dos seus dois antecessores.
Sendo assim: 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55...
Então, começava-se a contagem e ia rodando. O sujeito tinha que acertar, perdeu... Cachaça no toba. E quanto mais errava, mais pinga.
Agora, adivinha quem nunca errava?
Valiomar!
Ficou todo mundo melado e o filho da mãe, tirando o sarro de todos, sem beber nenhuma.
Sinto saudade da acanaição daquele amigo!

sexta-feira, 6 de julho de 2012

FELIZ ANIVERSÁRIO! Seria hoje seus 59 anos se a Providência não lhe tivesse chamado!

Em 06 de julho de 1953, nascia o quarto filho do Tio Waldemar e Tia Maria, batizado de Vildemar e registrado civilmente Francisco Valiomar Rolim. O primeiro nome o acompanhou até o término do Curso Primário. Com a sua entrada no Colégio Estadual de Cajazeiras, passou a ser chamado e conhecido Valiomar. Pessoa carismática ganhou notoriedade na Cidade que ensinou a Paraíba a ler. Formou-se no ano de 1979 pela Faculdade de Medicina de Campina Grande.
Parabéns Valiomar pelos 59 anos de idade!

Com Tia Maria
Com a irmã Vilmar, a mãe e a namorada

sábado, 5 de maio de 2012

*TORCEDOR FANÁTICO*


         Chico Rolim, deputado federal, ex-prefeito de Cajazeiras-PB por três vezes, fazendo serão em seu gabinete, já às oito e meia da noite, nem notou que o funcionário terceirizado da limpeza estava na área, exercendo sua função.
        Nunca fora ligado em futebol. Tinha como princípio que o Brasil deveria ser campeão na produção industrial, na exportação de bens, na produção de alimentos, nessas coisas.
        Trabalhava freneticamente no projeto de lei que iria propor: o da permissão de portar armas aos caminhoneiros em viagem. Sentia, desde a infância no interior do Ceará e da Paraíba, a insegurança de quem viajava na solidão das brenhas desse mundo de meu Deus. Era um fato real e repetido, desde a época dos tropeiros, que atravessavam os sertões em comboios de burros, transportando as riquezas, que este país produzia desde a época do império.
        Por mais que Rolim trabalhasse, por mais que ignorasse a presença do rapaz da limpeza, mais ele fazia barulho para ser notado. Não tinha jeito, o deputado estava absorto no seu projeto. Não havia barulho que chamasse a atenção dele.
        O bedel ficou impressionado com a concentração do congressista. Ate parecia que não estava na câmara. Ficou ali, parado, estático, presenciando o trabalho incessante do parlamentar.
        E ficaram os dois. Um trabalhando, outro observando.
        Passava das dez horas da noite. A câmara estava vazia, não havia viva alma, quando Rolim encerrou sua jornada.
        O faxineiro, depois de tanta espera, de tanto estranhar um deputado trabalhar até aquelas horas. Não conseguiu se conter e fez-se notar.
        Começou perguntando de qual estado era o deputado. Depois, perguntou qual time ele torcia. Diante da resposta de que ele não tinha time de preferência, não se conteve.
        Começou dizendo que só podia ser um político, que não queria desagradar ninguém, mas estava claro: ele era flamenguista. E declarou: “como não seria torcedor do Flamengo uma pessoa que tem, em sua escrivaninha, uma bandeira vermelha e preta e, ainda em cima, nela escrito NÊGO”.
        Era a bandeira da Paraíba que Rolim mantinha em seu birô.



domingo, 1 de abril de 2012

O chevette, o cambista e o urubu


Esteve sempre antenado com as coisas de sua terra e dela e seu povo herdou o espírito buliçoso e gaiato. A sua gaiatice não se traduziu em grandes estórias suas, de participação especial, de protagonista, mas poucos souberam divulgar com a sua mestria as descrições do espírito cajazeirense, naqueles tons de alegria e saudade, fincados na existência concreta dos personagens.
Nos seus últimos anos de vida, Valiomar explorou, intensamente, o seu retorno espiritual e intelectual às coisas de Cajazeiras.
Por isto, passou a escrever em jornais as suas colunas dos nossos personagens da boa terra.
Para mim, ler o seu texto seguro, fácil, bem escrito e fiel à estória, era um prazer de grande escala. Via-me nas esquinas e calçadas cajazeirenses, bebendo a realidade de minha terra e de sua gente. Relembrava-me a sua imagem de boa pessoa risonha, de riso largo e generoso, dramatizando um fato, um personagem e colhendo, nos seus interlocutores, a alegria decorrente de uma grande narrativa jocosa.
Fomos de gerações distintas, mas cheguei a conviver com ele nos seus tempos de AUC (Associação Universitária de Cajazeiras). Ele me deu atenção, confiança e respeito. Foi assim no nosso tempo de mais juventude e se reiterou no nosso tempo de menos juventude.
Lembro-me de sua época de presidente da AUC. Semana Universitária das boas. Muitas atividades sócio-esportivas.
Numa delas, um churrasco na fazenda de finado Arcanjo.
Valiomar estava dividido entre o churrasco e uma corrida de motocross. Tinha que cuidar da organização dos dois eventos.
Quando ele chegou no churrasco, a festa já corria solta. Tinha música, cerveja e...churrasco. E gente muita!

Valiomar viu que tudo estava caminhando bem e resolveu voltar para Cajazeiras e vistoriar a tal corrida de motocross. Me chamou para voltar com ele e dar apoio ao outro evento.
Quando íamos em direção ao seu carro, um grande personagem cajazeirense, o nosso Nêgo Rubens, mais conhecido como o irmão de Nenen Labirinto (outro presepeiro de Cajazeiras) pediu uma carona e entrou conosco no automóvel.
Caimos na estrada. De terra e estreita. E Valiomar inventou de dirigir ligeiro, muito ligeiro - estava atrasado.
Nêgo Rubens - chamamos Nêgo Rúbi - morria de medo de carro veloz!
Fomos, então, Valiomar na direção, eu de carona, na frente, e Nêgo Rúbi no banco traseiro, na parte central.
Valiomar tinha um chevette novo e corredor. E deu vontade de fumar, mas não tinha o fósforo.
Por isto, ele pegou o cigarro e virou-se para o banco traseiro: "- Tem fósforo, aí, Nêgo Rúbi?"
Nêgo Rúbi tinha o fósforo, mas estava com dificuldades de encontrá-lo, já que o carro em alta velocidade balançava demais. Só respondeu a Valiomar dizendo; "- Tenho, mas olhe pra frente que eu dou!"
E tome velocidade! Nêgo Rúbi demorou a entregar o fósforo e Valiomar fez aquele movimento de se virar pra trás umas três vezes! "- Me dá o fósforo, aí, Nêgo Rúbi!"
Como Nêgo Rúbi toda vez só dizia " - olhe pra frente, que eu dou", Valiomar perguntou: "- oxênte, Rúbi, tá com medo?"
Nêgo Rúbi faz um esforço maior e coloca o corpo entre os dois bancos dianteiros do carro e começa a apontar pra cima, pro céu, onde voavam vários urubus. E então diz: "- Num sou eu, não, Valiomar. São eles! Um dono de jogo do bicho resolveu colocar eles no jogo e quebrou 17 vezes!"
Eu e Valiomar caímos na risada! Nêgo Rúbi é temeroso ao azar que o urubu provoca!

Oh! Carrazera boa!
Saudade de Valiomar!
Fonte: blog Coisas de Cajazeiras - Christiano Moura